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Prefeitura de São Paulo aprova ampliação do aterro de São Mateus: projeto prevê a derrubada de quase 63 mil árvores

Quando o verde dá lugar ao cinza: a ameaça às quase 63 mil árvores de São Mateus  e o peso do racismo ambiental.

A decisão traz à tona os desafios da cidade em passar a seguir modelos de gestão mais sustentáveis, como o oferecido pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, que inclui reciclagem e tratamento descentralizado.

Imagem: Change.org

A Zona Leste de São Paulo, uma das regiões mais populosas e carentes de áreas verdes da cidade, está no centro de um debate urgente que transcende a questão ambiental e alcança dimensões de injustiça social. Conforme detalhado no Projeto de Lei Executivo 799/2024 da Prefeitura de São Paulo e em reportagem do Metrópoles, o projeto de ampliação do aterro sanitário de São Mateus pode levar à supressão de quase 63 mil árvores nativas e em recuperação em uma área equivalente a dezenas de campos de futebol.

Este caso exemplifica um padrão histórico de racismo ambiental, conforme discutido em análise da NaqīKarbon. Como destacado no blog, "o racismo ambiental no Brasil se manifesta quando comunidades vulneráveis, predominantemente negras, periféricas e de baixa renda, são desproporcionalmente impactadas por políticas ambientais injustas" - exatamente a situação vivenciada em São Mateus.

O impacto não é apenas numérico: trata-se de um patrimônio ambiental que cumpre papel essencial na qualidade do ar, na regulação do microclima e na retenção de carbono em uma região que já sofre com a escassez de espaços verdes. Cada árvore suprimida representa uma redução na capacidade natural de mitigação de ilhas de calor, controle de inundações e proteção da biodiversidade local.

Durante audiência pública realizada na Câmara Municipal, documentada em seu portal oficial, moradores e especialistas levantaram questionamentos técnicos substantivos sobre os riscos do projeto. Entre os pontos destacados, estão:

  • Os efeitos cumulativos na qualidade do ar e na saúde pública;
  • O aumento significativo do tráfego de caminhões e emissão de poluentes;
  • O desequilíbrio ecológico gerado pela perda em massa de vegetação;
  • Preocupações operacionais quanto à gestão do chorume e possíveis contaminações.

A mesma audiência também trouxe à tona questionamentos técnicos sobre a possível instalação de um incinerador na região, ampliando as preocupações quanto às externalidades ambientais e de saúde pública.

Este cenário expõe um dilema urbano fundamental: como conciliar a necessidade imediata de gestão de resíduos - o aterro recebe aproximadamente 40% de todo o lixo domiciliar da capital - com a preservação ambiental e a qualidade de vida da população? Ampliar a capacidade do aterro aparece como solução operacional imediata, mas a conta ambiental é particularmente alta para uma região já sobrecarregada por infraestrutura precária e deficitária de cobertura verde.

As árvores de São Mateus não são apenas números em uma planilha de compensação ambiental. Elas representam serviços ecossistêmicos concretos: sombra e redução de temperatura em dias quentes, proteção contra enchentes através da absorção de águas pluviais, abrigo para biodiversidade e melhoria da qualidade do ar para milhares de pessoas. Substituí-las por concreto e ampliação de infraestrutura de resíduos é optar por um modelo de desenvolvimento que ignora a urgência climática e a necessária transição para cidades mais resilientes.

Por que o local agrava a injustiça

Além dos impactos ambientais diretos, a localização agrava desigualdades: o entorno do aterro concentra população densa, menor oferta de espaços públicos verdes e infraestrutura urbana deficitária. Concentrar ainda mais instalações de gestão de resíduos nessa área significa ampliar a exposição de milhares de pessoas a poluentes, ruído e tráfego de veículos pesados. Esse padrão confirma o que a literatura e ativistas chamam de racismo ambiental — uma distribuição desigual de riscos que exige resposta técnica e ética por parte das políticas públicas.

Alternativas técnicas que devem ser priorizadas

Ampliar aterros é uma solução de curto prazo. Existem caminhos técnicos e gerenciais que reduzem a necessidade de expansão final:

  • investimentos na educação da população local sobre gestão de resíduos;
  • redução na fonte e políticas de prevenção de resíduos;
  • coleta seletiva universal e qualificada, com valorização dos catadores;
  • compostagem e biodigestão para fração orgânica;
  • modernização e ampliação das centrais de triagem;
  • soluções descentralizadas de tratamento que diminuam a pressão sobre aterros e infraestruturas centralizadas.

Mobilização e participação cidadã

Diante deste cenário, a sociedade civil tem se mobilizado para expressar sua preocupação. Um abaixo-assinado online, intitulado "Não ao corte de 63 mil árvores para ampliação do aterro de São Mateus", já reúne milhares de assinaturas de cidadãos que se opõem ao projeto em sua forma atual. A petição pública representa um termômetro importante do sentimento popular e da rejeição a soluções que privilegiam a expansão de infraestrutura poluente em detrimento da preservação ambiental.

O caso de São Mateus abre espaço para uma reflexão técnica mais ampla: a real necessidade de investimento em soluções modernas de gestão de resíduos que priorizem a redução na fonte, a reciclagem efetiva e a compostagem em larga escala, em detrimento de modelos que sacrificam o patrimônio ambiental existente. Destruir milhares de árvores adultas e em recuperação não pode ser tratado como mero item de planilha em projetos de expansão de infraestrutura.

Na NaqīKarbon, acreditamos que decisões ambientais devem ser pautadas pela lógica da regeneração e não da substituição. A expansão de um aterro sanitário em detrimento de um patrimônio verde consolidado representa um caminho de curto prazo que cobrará um preço elevado das atuais e futuras gerações - não apenas em termos ambientais, mas também em saúde pública e qualidade de vida urbana.

CHAMADA URGENTE: ASSINE AGORA E FAÇA A DIFERENÇA

Não podemos aceitar que milhares de árvores sejam arrancadas enquanto alternativas menos danosas permanecem subinvestidas. Se você acredita que a cidade pode e deve gerir seus resíduos sem sacrificar patrimônio ambiental e saúde pública, assine e compartilhe o abaixo-assinado contra o corte:

➡️ Assine aqui: Não ao corte de 63 mil árvores para ampliação do Aterro de São Mateus

Participe das audiências públicas, acompanhe os documentos do EIA/RIMA e pressione por estudos independentes e monitoramento em tempo real. A preservação do verde urbano é uma questão técnica, ambiental e de justiça.

 

Fontes consultadas:

  1. Metrópoles — “Ampliação de aterro em São Mateus pode derrubar quase 63 mil árvores”
    A matéria que traz os números da supressão vegetal e detalhes do EIA apresentado pela empresa.
  2. Projeto de Lei Executivo nº 799/2024 — Legislação Prefeitura de São Paulo
    Texto do projeto de lei executivo que trata da alteração do mapa do Plano Diretor visando viabilizar a obra. (Página oficial de legislação municipal).
    https://legislacao.prefeitura.sp.gov.br/leis/projeto-de-lei-executivo-799-de-12-de-novembro-de-2024
  3. Câmara Municipal de São Paulo — cobertura da audiência pública sobre o PL 799/2024 (Ecoparque Leste / incinerador)
    Matéria do portal da Câmara que relata a audiência pública em que moradores e especialistas questionaram o projeto.
  4. Petição / Abaixo-assinado — “Não ao corte de 63 mil árvores para ampliação do Aterro de São Mateus” (Change.org)
    Página da petição online mobilizando assinaturas contra a supressão de árvores e a ampliação do aterro.
  5. NaqīBlog / NaqīKarbon — “Racismo Ambiental no Brasil: Quem mais sofre com a crise climática?”
    Artigo de referência sobre racismo ambiental, usado para articular a dimensão de justiça ambiental no post.







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